A frase é da fisioterapeuta Elizabeth Franci Gonçalves. Com quase 40 anos de profissão, Elizabeth vem fechar as comemorações do mês das mulheres contando um pouco da sua experiência
Como começou a sua história com a Fisioterapia?
Me casei aos 15 anos com um militar. Casei cedo e com uma condição: de que eu não parasse de estudar. Mudando de um estado para outro, por conta da profissão do meu marido, aos trancos e barrancos me formei em Fisioterapia. Como mudávamos muito, posso afirmar que conheço a Fisioterapia em todo o Brasil. Por conta disso, costumo até brincar dizendo que sou brasileira, que não tenho um estado de nascimento. Hoje, com 75 anos, possuo quase 40 anos de profissão.
Podemos afirmar então que a senhora acompanhou a evolução da Fisioterapia?
Com certeza. Convivi com pessoas como Sonia Gusman, responsável pela criação dos Conselhos Federal e Regionais de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Ela lutou para que a profissão fosse reconhecida e respeitada em todo o país. Se hoje temos COFFITO e CREFITO é graças à ela. Me lembro bem que não existia o fisioterapeuta entrar em hospitais, na UTI. Para se ter uma ideia, éramos confundidos com massagistas tamanho o desconhecimento do que era a Fisioterapia. Hoje, essa meninada nova que se forma em Fisioterapia não tem ideia da história da profissão, que foi de muita luta.
Alguma área da Fisioterapia é especial para a senhora?
Fui criada em uma fazenda e imagina! Nunca pensei que um dia mexeria em computador ou andaria pelo país todo. Sempre gostei muito de cavalos e cheguei a trabalhar com Equoterapia, eu e minha filha. Participamos da criação da Associação Nacional de Equoterapia (ANDE Brasil). Infelizmente, aqui no Espírito Santo, onde estou desde 2005, esse tipo de fisioterapia não é muito procurado. No entanto, a paixão da minha vida é a Fisioterapia na área de Neuropediatria. Hoje, digo que tenho netos, que são os filhos das pessoas que tratei. São meninos e meninas que conseguiram ter vida prática e hoje estão formados em Psicologia, Arquitetura e Nutrição.
Nesses quase 40 anos de profissão, alguma história te marcou?
São tantas histórias. Tratei muito paciente amputado, crianças com problemas neurológicos em uma época em que isso era um problema e elas tinham que ficar escondidas dentro de casa. De todas as histórias e pessoas que passaram pela minha vida, duas me marcaram.
Fui morar em uma cidade da fronteira do Rio Grande do Sul por conta do trabalho do meu marido. Um local que não tinha nada. Fui chamada para atender uma senhora de 60 anos que estava com uma perna amputada. Por conta disso, ela estava há 2 meses deitada em uma cama, recebendo comida na boca, sem vontade de viver. Com o tratamento, não só ajudei essa senhora a voltar a ser ativa, como mostrei que ela estava viva e que podia fazer várias coisas mesmo com a perna amputada.
A outra história eu nunca esqueço. Atendi um menino de 5 anos com Mielomeningocele, uma malformação congênita da coluna vertebral que impede de andar. Ele chegou pra mim e disse: “Tia, eu queria ser jogador de futebol”. Ele não se tornou um jogador, mas consegui com que ele brincasse com a bola usando uma muleta. São histórias emocionantes que marcam a gente.
Qual conselho deixaria para quem está se formando ou quer ser fisioterapeuta?
Primeiro de tudo: não faça Fisioterapia porque não passou em outra faculdade. Isso é muito comum. A pessoa não passa em Medicina ou Odontologia e resolve fazer Fisioterapia. Para seguir nossa profissão é preciso amar a reabilitação. Nós levantamos o paciente, formamos uma vida, tornamos uma vida útil e prática de novo. Exemplo disso são as histórias que contei. É preciso amar o que faz!