Atuação do Terapeuta Ocupacional na Assistência Social (CREAS)

A Terapia Ocupacional é uma área ampla e multidisciplinar, que possibilita a atuação do profissional em vários cenários. Você sabe como o terapeuta ocupacional pode estar inserido nos contextos sociais? A Dra. Marina Batista, TO atuante da área em um dos Centros de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS) no Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas Idosas e Pessoas com Deficiência e suas famílias no Domicílio (SEAD), no município de Vitória, conta para a gente um pouco sobre o dia a dia da profissão, os desafios encontrados, e as alegrias que a movem ao longo de toda a jornada.

Quais são as possibilidades de atuação do terapeuta ocupacional na assistência social?

É importante considerarmos que a atuação do TO nos Contextos Sociais não se restringe ao Sistema Único de Assistência Social (SUAS), pois pode também atuar nas políticas públicas de Cultura e Direitos Humanos, e até mesmo ONGs, por exemplo.

Mas no que se refere a Assistência Social, temos marcos legais para dimensionar a atuação da TO no Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Começando pela  Norma Operacional Básica de Recursos Humanos (NOB-RH/SUAS) que estabelece as categorias profissionais que atuam no SUAS onde a TO está inserida podendo atender as especificidades dos serviços socioassistenciais, bem como atuar na gestão.

Outro documento importante para nortear a TO neste contexto é a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais que organiza os serviços conforme os níveis de complexidade, e temos também a Cartilha “Terapia Ocupacional: Contribuições ao Sistema Único de Assistência Social, como uma importante ferramenta orientadora.

Que reflexões podem ser feitas acerca das ações na assistência social para o desenvolvimento comunitário?

São muitas as reflexões, mas destaco que política de AS é na prática uma grande articuladora das demais políticas públicas, que no cotidiano das famílias e comunidades atendidas favorece o reconhecimento das redes formais e informais de suporte, e ampliação da proteção social a grupos e a indivíduos.

Quais são os maiores desafios encontrados no contexto social? 

Acredito  que um dos principais desafios seja o financiamento desigual em relação ao Sistema Único de Saúde e ao INSS, considerando que estes juntamente com o SUAS compõem o tripé da seguridade social no país. Seguido deste desafio temos o drástico aumento daqueles que necessitam do atendimento dos serviços do SUAS, que são as pessoas em situação vulnerabilidade social por questões de hipossuficiência de recursos materiais, ou em processos de ruptura de vínculos sócio afetivos e comunitários, e vítima de violência, por exemplo.

Quero destacar aqui as relações burocráticas que dificultam o exercício da cidadania e acesso a direitos a determinados grupos sociais. No entanto, a TO lança mão de uma tecnologia social chamada “empréstimo de contratualidade”, em que o profissional empresta seus conhecimentos reconhecidos socialmente como uma estratégia para viabilizar a produção de projetos de vida, trocas sociais e o acesso a direitos.

O que te move a continuar atuando na área?

O meu senso de propósito, de missão. Pois esta área me proporciona trocas sociais e o exercício do respeito à diversidade humana e aos  modos de vida diferentes do meu. Atuar nas políticas públicas, em especial na AS, me traz muita realização pelo privilégio de cotidianamente pensar estratégias para execução e materialização das proteções sociais na vida dos cidadãos.

Quais dicas que você dá para o estudante que vê essa área como uma opção para atuação futura?

Dou como dica se apropriar dos marcos legais mencionados, levando em conta a investidura do compromisso ético político com o público a ser atendido, e também aproveitar ao máximo as aulas práticas e estágios na AS se implicando em participar dos processos de construção de alternativas de proteção, e acumular essa vivência no próprio repertório de vida, para usufrui-lo e compartilhá-lo na vida profissional.

Na prática observamos que a política de assistência social no contexto capixaba tem absorvido muito bem os recém formados em terapia ocupacional.

Que recado você daria aos seus colegas de profissão que continuam a atuar em meio à pandemia de coronavírus?

Tem sido desafiador, porém imprescindível, nutrir a esperança e a gratidão todos os dias, pois estamos sendo impactados drasticamente nas nossas relações humanas e cotidianos. Por isso, vale muito a pena nos permitirmos o re-encantamento com a beleza da claridade do dia, com as luzes a noite, com o vento em nossa pele,  com as memórias de carinho e cuidado que oferecemos e recebemos ao longo de nossas vidas.

Ao passo que admitimos as nossas vulnerabilidades, nos aprimoramos naquilo que temos de melhor. Estamos mais sensíveis e atentos aos determinantes sociais da saúde, as expressões das questões sociais, e melhorando nossa  capacidade de trabalhar e dialogar intersetorialmente, apesar dos conflitos políticos e institucionais.

Este cotidiano de contingências, ressalta a nobreza dos nossos fazeres profissionais na prestação de serviços à população, tanto pelos que atuam na linha frente, quanto aos que  atuam na retaguarda.

O reconhecimento destas dimensões coletivas e individuais, favorece o nosso fortalecendo para o novo ciclo que se iniciará na vida pós pandemia.

 

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