No mês de abril é celebrado o Dia Nacional do Parkinsoniano. O Parkinson é uma doença progressiva que, tratada junto a um fisioterapeuta, restabelece e maximiza a qualidade dos movimentos, recupera a capacidade física e funcional do paciente. Para falar sobre o papel da Fisioterapia no tratamento do Parkinson, convidamos o Dr. Patrik Fontes, fisioterapeuta e professor da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM), com especialização em Fisioterapia aplicada à Neurologia Adulto. Confira a entrevista na íntegra.
1) O que é Parkinson?
É uma doença progressiva, neurodegenerativa de causa desconhecida, porém com associação positiva com fatores ambientais (pesticidas) e genéticos. A degeneração celular leva a níveis baixos de dopamina em regiões específicas dos núcleos da base, lobo frontal e sistema límbico. Com o tempo, as lesões em áreas não dopaminérgicas do cérebro (lócus coeruleus e núcleo pedúnculo pontino) aumentam e, por essa razão, há vários fenótipos na doença de Parkinson.
2) Como identificar uma pessoa com doença de Parkinson?
O diagnóstico é baseado no exame clínico: o paciente deve apresentar uma bradicinesia, cuja apresentação clínica inicial pode ser “arrastar” o pé, perda da destreza manual, um braço que balança menos do que outro durante a marcha, além de mais uma das seguintes características: rigidez e instabilidade postural e tremor de repouso unilateral. Esta é uma metodologia expressa pelo Uk Parkinson´s Disease Society Brain Bank Clinical Criteria. Em alguns casos alcança-se o diagnóstico com base na clínica e na resposta terapêutica, “prova dopa”, ou seja, uma resposta clínica aguda à administração de uma dose supraterapêutica de levodopa oral. Cada vez mais se reconhece a importância dos “sintomas não motores”, que têm grande impacto na qualidade de vida e surgem em uma fase pré–motora, sendo alguns muito comuns: hiposmia, disautonomia (hipotensão ortostática, sialorréia, alterações urinárias, obstipação, hipersudorese e disfunção erétil), alterações do sono (insônia, perturbação do comportamento do sono REM, hipersonia diurna, entre outras), deterioração cognitiva (leve até demência em fase avançada), depressão, apatia, ansiedade, fadiga, dor, alterações psicóticas (alucinações visuais benignas), perturbações no controle do impulso (compulsão por compras, jogos, sexo e comida), que podem estar associadas aos efeitos adversos da medicação. A incidência é aproximadamente 1,5 vez maior em homens e uma prevalência de idade acima de 60 anos.
3) Qual a importância da Fisioterapia no tratamento da doença de Parkinson?
A Fisioterapia restabelece e maximiza a qualidade dos movimentos, recupera a capacidade física e funcional, previne as complicações secundárias ao imobilismo, quedas e apóia os pacientes a participarem ativamente e cumprirem todos seus objetivos ao longo da vida de forma segura e eficaz.
4) Quais os principais exercícios trabalhados no paciente com doença de Parkinson?
Dependendo do estágio da doença na qual o paciente se encontra, pode haver uma prioridade para cada uma das áreas a seguir: aumento do desempenho físico, recuperação da equilíbrio e marcha, correção postural, treino de manuseio manual e treino funcional com ênfase na mobilidade e transferências posturais. Em estágios mais avançados, o terapeuta tende a lidar junto com o paciente no enfrentamento das flutuações motoras no qual será treinado, ensinando e orientando a melhor maneira de suprir estes obstáculos permanentes e flutuantes ao longo do tempo. Por fim, a Fisioterapia Respiratória é importante na prevenção de complicações cardiopulmonar e internação hospitalar que geralmente ocorrem no estágio final.
5) Quais consequências para o paciente que não faz Fisioterapia?
As principais consequências seriam levar à diminuição da independência, inatividade e isolamento social, resultando na redução da qualidade de vida.
6) Como é a participação da família no tratamento?
Atualmente o tratamento é centrado no paciente, cujos objetivos e manejos por uma equipe multidisciplinar serão abertos e contínuos. Desta maneira, a família precisa receber informações e conhecimentos sobre a doença de forma a integrá-los para auxiliar, compartilhar e saber lidar com os desafios do paciente ao longo desse período.
7) Que dica pode dar para o fisioterapeuta que deseja trabalhar com Parkinson?
Se familiarizar com os pacientes, estudar o assunto, viver a prática da reabilitação, ter sempre um olhar clínico para captar e perceber toda e qualquer alteração clínica. Além disso, ser um profissional criativo, envolvido e curioso em atualizar para resolver e dar soluções às limitações e incapacidades que surgirem.
8) É possível devolver qualidade de vida ao paciente com doença de Parkinson?
Sim, é possível recuperar a comunicação, a independência funcional nas AVD`S, além da mobilidade e transferência com o tratamento multidisciplinar, incluindo Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional e Fisioterapia. A Psicoterapia e o ajuste medicamentoso são essenciais para otimizar o equilíbrio entre o corpo e a mente.